SÃO PAULO 25 DE FEVEREIRO DE 2012
TEMA: PORTA FIDEI (PORTA DA FÉ) – Carta Apostólica do Papa Bento XVI.
Caros irmãos (as) o Retiro é uma ocasião especial, quando deixamos os nossos afazeres cotidiano para adentrarmos dentro de nós mesmo em busca de algo extra-ordinário, é o momento em que devemos nos deparar conosco mesmo, com a nossa solidão, medos, questionamentos existenciais. Mas também pode ser um instante sublime, de encontro com o todo Outro, Deus que desde todos os tempos tem nos devotado tamanho amor e compaixão “ Seu amor existe desde sempre e para sempre existirá por aqueles que o temem; sua justiça é para os filhos dos filhos, para os que observam sua aliança e se lembram de cumprir suas ordens. Ele é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor;… nunca nos trata conforme nossos erros, nem nos devolve segundo nossas culpas, como o céu que se alteia sobre a terra, é forte seu amor por aqueles que o temem, como o oriente está longe do ocidente, ele afasta de nós as nossas transgressões.” (Cf. Sl 103(102)).
Hoje vos convido a fazer o itinerário da fé com o Papa Bento XVI que em sua Carta Apostólica Porta Fidei nos convida a celebrar o ano da Fé que terá seu inicio a 11 de outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e seu termino na Solenidade de Cristo Rei do Universo, a 24 de novembro de 2013, onde se completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica.
Como ele próprio afirma é um convite solene a toda a Igreja para que haja “uma autêntica e sincera profissão de fé, confirmada de maneira individual e coletiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca, retomando a exata consciência da fé reavivando, purificado, confirmando, confessando, compreendendo e aprofundando-a em seus conteúdos essenciais e dando testemunho coerente deles em condições históricas diversas. É um convite para uma autentica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo”[1].
A Porta da Fé (Cf. At 14,27; 1Cor 16,9; 2Cor 2,12; Cl 4,3), nos introduz na vida de comunhão com Deus e nos permite a adentrar à Igreja, que está sempre aberta para nós, quando a Palavra de Deus é anunciada e o nosso coração se deixa modelar-se pela graça que transforma e assim nos embrenhamos num caminho que dura para sempre. Este caminho tem seu inicio com o Batismo e se conclui com a passagem da morte para a vida eterna que é fruto da Ressurreição de Jesus e dom do Espírito Santo, querendo que participássemos da sua própria glória a todos que cremos n’Ele (cf. 1Jo 17, 22).
Deus é Amor, Trino-Uno, Pai que na plenitude dos tempos enviou seu Filho único para nossa salvação, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e ressurreição, nos enviando o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos, e que aguarda o regresso glorioso do Senhor.
O mundo contemporâneo passa por uma grande crise de fé, imbuídos com as consequências sociais, culturais e políticas muitas pessoas acabam negando a fé. A Igreja, no seu conjunto, e os Pastores, nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens para fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude.
Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz seja escondida (Cf. Mt 5,13-16). Também hoje podemos sentir de novo a necessidade de irmos à fonte (Cf. 4, 14) e lá ouvirmos a Jesus que nos convida a crê n’Ele e a beber da água viva, e assim readquirirmos o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (Cf. Jo 6,51). Crer em Jesus Cristo é o caminho para poder chegar definitivamente à salvação (Cf. Jo 6,29).
A Igreja clama por uma nova evangelização (renovação) para a transmissão da fé cristã. O Papa Bento nos indica como itinerário para o crescimento da Fé:
- O Concílio Vaticano II lido e guiado por uma justa hermenêutica (interpretação);
- O testemunho próprio da vida dos crentes chamados a fazer brilhar, com sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou e citando a Constituição dogmática Lumen Gentium 22 afirma: “Enquanto Cristo, Santo, inocente, imaculado (Heb 7,26), não conheceu o pecado (2Cor 5,21), mas veio para expiar apenas os pecados do povo (Heb 2,17), a Igreja, reunindo em seu próprio seio os pecadores, ao mesmo tempo santa e sempre na necessidade de purificar-se, busca sem cessar a penitencia e a renovação. Entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus avança, peregrina, a Igreja, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que ele venha (1Cor 11,26). È Fortalecida pela força do Senhor ressuscitado, afim de vencer pela paciência e pela caridade de suas aflições e dificuldades tento internas quanto externas, para poder revelar ao mundo o mistério d’Ele, embora entre sobras, porém com fidelidade, até que por fim seja manifestado em plena luz”.
- A autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do Mundo que pelo Batismo, em virtude da Fé nos concedeu uma vida nova, plasmando toda a nossa existência segundo a novidade radical de sua morte e ressurreição (Cf. At 5,31; Rm 6,4). E assim sendo abrindo-se livre e plenamente a conversão, os pensamentos e afetos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo aos poucos purificados e transformados, ao longo de um itinerário que chegará a sua plenitude quando nos encontrarmos com o eterno outro; Jesus Cristo.
- A vivência do amor, é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. A fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferece um testemunho que é capaz de gerar: abrindo o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o Convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de tornarem seus discípulos.
Só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquerir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem sua a origem em Deus.
- O Catecismo da Igreja Católica - sua síntese sistemática e orgânica é norma segura para o ensino da fé e instrumento valido e legítimo à obra de renovação da fé e ao serviço da comunhão eclesial.
Nele, sobressai a riqueza de doutrina que a igreja escolheu, guardou e ofereceu, desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece a Memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a Fé e progrediu na doutrina para dar a certeza aos crentes na sua fé.
Objetivo do Ano da Fé
1. Fazer publicamente a profissão do Credo;
2. Suscitar em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com convicção, com confiança e esperança;
3. Intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucarístia, que é a meta para qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força;
4. Estimular para que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade;
5. Redescobrir os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada;
6. Refletir sobre o próprio ato com que se crê como um compromisso que deve ser assumido.
Princípios que nos ajuda a compreender de modo profundo os conteúdos da fé:
1. Acreditar com o coração e com a boca fazer a profissão de Fé (Cf. Rm 10,10), é o primeiro ato, pelo qual se chega à fé, é dom de Deus e ação de graças que age e transforma a pessoa até o mais intimo dela mesma (Cf. At. 16,14);
2. Assumir um testemunho e um compromisso públicos (Cf.. At. 2, 1-41; 3 11-16; 6,8-15) O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um fato privado. Assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E estar com Ele introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita;
3. A fé é um ato simultaneamente pessoal e comunitário, o primeiro sujeito da fé é a Igreja. É na fé da comunidade cristã que cada um recebe o Batismo, sinal eficaz de entrada no povo dos crentes para obter a salvação;
4. O conhecimento dos conteúdos da fé é essencial para aderir plenamente com a inteligência e a vontade a quanto é proposto pela Igreja. O conhecimento da fé introduz na totalidade do mistério salvífico revelado por Deus, implicando que quando se acredita se aceita livremente o mistério da fé, porque o garante da sua verdade é o próprio Deus, que se revela e permite conhecer o seu mistério de amor;
5. A busca sincera a cerca da sua própria existência e da do mundo é um verdadeiro inicio da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus. Convite inscrito na razão do homem para se pôr a caminho ao encontro d’Aquele que não teríamos procurado se Ele não tivesse já vindo ao nosso encontro.
6. Jesus Cristo é o autor e consumador da Fé (Cf. Hb 12,2): n’Ele encontra a plena realização toda ânsia e desejo intenso do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão diante da ofensa recebida e a vitoria sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-se homem, do partilhar conosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição.
Concluindo:
A Fé exemplar é uma posse antecipada do que se espera (o céu), convicção das não desejadas (o inferno), é um meio de demonstrar as realidades que não se vêem( a vida perfeita inaugurada por Jesus na sua ressurreição). (Cf. Hb 11, 1-40)